A importância da profissão do mecânico de manutenção de aeronaves foi destaque da Revista CIPA (Edição 461-Janeiro/Fevereiro 2018). A publicação completa neste ano 40 anos e é especializada na área de segurança e saúde no trabalho, higiene ocupacional e laboral.
A reportagem de quatro páginas, assinada pelo jornalista Renan Xavier, aborda o complexo trabalho dos mecânicos, responsáveis pela segurança e voo, que desenvolvem tarefas variadas, em condições ambientais difíceis e com tempo limitado.
A matéria destaca que esses profissionais convivem diariamente com uma série de situações de perigo decorrentes da atividade, expostos a agentes químicos, barulho intenso, precarização dos equipamentos de apoio e o estresse constante.
Em entrevista à publicação, o dirigente do Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), fundador da Associação Brasileira de Mecânicos de Manutenção (ABMMA), Cláudio Vizzoni, falou um pouco dos bastidores. “Seja debaixo de chuva, sol, granizo ou tempestade tenho que estar na pista para garantir que está tudo em ordem com o avião e, caso positivo, liberá-lo para a decolagem”, resume o profissional há mais de 20 anos, que atualmente trabalha na manutenção de aeronaves da Azul, em Porto Seguro (BA).
Ele destacou também que a segurança desses profissionais tem sido colocada em segundo plano pelas empresas aéreas. O maior problema, segundo ele, são os equipamentos de apoio em mau estado de conservação, os quais, desgastados pelo longo tempo de uso, carecem de reparos.
Normas regulamentadoras
A Revista Cipa também ouviu o dirigente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru) e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT (FENTAC), Orisson Melo, que é mecânico há mais de 20 anos e trabalha na manutenção da Latam, no GRU Airport. Ele elencou os principais riscos operacionais que envolvem a manutenção de aeronaves.
Segundo o sindicalista, as NRs que demandam maior atenção são: NR-32 – Risco Químico: Apenas por estar dentro dos aeroportos os trabalhadores inalam gases tóxicos, seja das turbinas ou durante o abastecimento das aeronaves. Este fator de risco foi reconhecido pela Justiça recentemente em uma ação impetrada pelo Sindicato. Hoje, todos os mecânicos recebem adicional por periculosidade.
Pressão psicológica
Outro ponto preocupante é a pressão psicológica pela execução do trabalho em tempos curtos tem gerado uma onda de afastamentos por depressão, agravadas pelo estresse extremo. “Quando a aeronave estaciona para inspeção, tem horário para sair. Avião parado é prejuízo para as empresas aéreas, o que impõe aos funcionários um controle muito rígido do tempo de execução dos reparos”, explica Melo.
Ameaça constante de demissões
Ainda segundo o dirigente, outro fator que contribui para estresse é a ameaça constante de demissões. Entre 2016 e início de 2017, as companhias aéreas demitiram mais de 600 mecânicos que ficam nas pistas dos aeroportos realizando manutenção preventiva.
Em paralelo, entre os anos de 2006 e 2015, a demanda de brasileiros pelo transporte aéreo registrou aumento de 118%. Em 2015, o país bateu recorde de viagens transportando mais de 117 milhões de passageiros.
No ano seguinte, apesar da primeira queda após 13 anos consecutivos de aumento na compra de passagens, foram transportadas 109,6 milhões de pessoas, sendo 88,7 milhões em voos domésticos e 20,9 milhões em voos internacionais. “Cresce a demanda, mas diminui o número de trabalhadores. As empresas aéreas estão visando seus lucros, mas cortando gastos de setores fundamentais para a segurança dos passageiros”, salientou Melo.
Frente Nacional
Para valorizar a importância da profissão de mecânico na inspeção das aeronaves, foi lançada em janeiro de 2017 a Frente Nacional para Manutenção da Aviação Segura (FNMAS).
Compõem o Frente: a FENTAC, da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos da Força Sindical (FNTTA) e a Associação Brasileira de Mecânicos de Manutenção de Aeronaves (ABMMA).
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