Uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres, com o apoio do portal Papo deHomem e Boticário, mostra como as desigualdades de gênero afetam mulheres e homens no Brasil. O levantamento revela que 81% dos homens entrevistados concordam que são machistas, sendo que 3% deles se consideram bastante machistas. 95% das mulheres também concordam com a afirmação.
De acordo com a organização internacional, a pesquisa teve uma etapa qualitativa, que entrevistou 40 pessoas entre influenciadores e especialistas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, e uma quantitativa, em que ouviu 20 mil pessoas online em todo o País.
Segundo Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, o debate público sobre os direitos das mulheres está na ordem do dia.
"As mulheres mostram a convicção de que a igualdade é benéfica para todas as pessoas, ao passo em que elas afirmam serem as pessoas mais afetadas pela violência e pela desigualdade de direitos em relação aos homens. Por sua vez, eles evidenciam como o machismo condiciona as masculinidades, restringindo-lhes a relação com as mulheres e com os próprios homens por meio de comportamentos e atitudes machistas. O estudo traz elementos mais concretos sobre as discussões sobre a igualdade de gênero, para a revisão e a repactuação de papéis de gênero, assim como as transformações necessárias para o fim do machismo”, explica.
Dados
O levantamento identificou como as mulheres percebem o papel dos homens na sua vida e na sociedade de hoje, apontando as principais tensões culturais que geram sofrimento e desigualdade. Entre as constatações está o fato de que os homens ainda não sabem lidar com a mudança de posição na hierarquia social, o que faz com que busquem provar constantemente sua masculinidade.
O estudo aponta que os estereótipos do comportamento masculino causam dificuldades aos homens, já que 66,5% deles não falam com os amigos sobre medos e sentimentos; 45% gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis pelo sustento financeiro da casa; e 45,5% gostariam de se expressar de modo menos duro ou agressivo, mas não sabem como. Quanto mais inseguros se sentem, mais violentos ficam, perpetuando a desigualdade de gêneros.
Também não é fácil para eles lidar com a figura do “herói durão” e do ideal da virilidade, tendo que provar que é forte, provedor e poderoso.
Para se ter uma ideia, 56,5% gostariam de ter uma relação mais próxima com os amigos, expressando mais afeto, e 54% gostariam de ter mais liberdade para explorar hobbies pouco usuais sem serem julgados.
Agentes de mudanças
Entre os mecanismos capazes de envolver mais a figura masculina no processo de transformação, o estudo indica ações educativas independentes que podem debater a saúde do homem, por exemplo; espaços de acolhimento para discutir masculinidade entre homens; grupos reflexivos para homens autores de agressão; e iniciativas que visem alterações em políticas públicas, como o aumento da licença-paternidade.
Outras atitudes são: não interromper uma mulher quando ela estiver falando, nunca subestimar ou desconfiar da capacidade dela e não usar termos agressivos para confrontá-la.
Guilherme Valadares, fundador e diretor de conteúdo do Papo de Homem, contextualiza que 'os homens não precisam se sentir ameaçados'.
" O que está sendo combatido é apenas a masculinidade tóxica, não o masculino como um todo. Assim como o machismo é prejudicial às mulheres e aos próprios homens, a igualdade de gênero é benéfica para todos nós. Por isso acreditamos que há espaço para envolver os homens nesse movimento, sempre respeitando o protagonismo das mulheres. E é uma alegria imensa para nós articular e puxar esse projeto junto à ONU Mulheres e tantos parceiros incríveis”, fundamenta.
Documentário
Como resultado deste projeto, que faz parte do movimento global ElesPorElas (HeForShe), foi produzido o documentário “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero”, que será veiculado no canal do You Tube, da ONU Mulheres, a partir do mês de novembro.
Veja relatório da pesquisa aqui
Assista ao trailer "Precisamos falar com os homens?"
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