Apesar de o avião ter se popularizado como meio de transporte nos últimos anos, mais da metade dos 71,7 milhões de passageiros transportados no País estão concentrados em apenas 24 rotas domésticas das 877 existentes. Líder em volume de passageiros e cargas, São Paulo é origem ou destino de metade dessas rotas – e a ponte aérea para o Rio é a mais procurada, com 5,6 milhões de passageiros em 2010.
Os números são da primeira pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre transporte aéreo no País, divulgada ontem. O estudo mostra que há uma grande concentração de passageiros nos grandes centros urbanos e o acesso à aviação comercial é deficitário no interior.
Entre os 5.565 municípios brasileiros, apenas 135 (2,4%) têm aeroportos com voos comerciais regulares. Os trechos que levam o maior número de passageiros se concentram em 13 capitais, além de Campinas.
Depois da ponte aérea, os voos entre São Paulo e Brasília e Porto Alegre e Salvador são os mais procurados. A rota mais movimentada fora de São Paulo é Rio-Brasília, que transportou 1,7 milhão de passageiros. Os dados são baseados em estatísticas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de 2010.
Apesar do crescimento de 50% na quantidade de passageiros nos aeroportos cariocas (Galeão e Santos Dumont), Congonhas e Cumbica têm quase o dobro da movimentação do Rio – foram 26,8 milhões de embarques e desembarques domésticos em São Paulo, ante 14,4 milhões no Rio.
Até a década de 1970, era o inverso: o Rio superava São Paulo em voos e quantidade de passageiros. Fechada pela ditadura militar, a Panair do Brasil era uma companhia expoente da época que tinha sede no Rio.
Viajante frequente, a nutricionista Andréia Dutra, de 37 anos, gasta R$ 8 mil por mês com ponte aérea – viaja toda terça e quinta, sempre por causa de compromissos profissionais. Ela se queixa da pouca infraestrutura.
“Nem aqui em Congonhas, um aeroporto executivo, há espaço para trabalhar. Não tem cadeira, não tem tomada. Para quem viaja a lazer é ótimo, mas quem está a negócios sofre.”
Brasília, que tem só um aeroporto, ficou em terceiro lugar em número de passageiros em 2010, com 12,3 milhões de embarques e desembarques.
Menos oferta. A malha aérea brasileira já foi mais abrangente. O professor Cláudio Jorge Pinto Alves, da Divisão de Engenharia Civil do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), lembra que nos anos 1960 o País chegou a ter 300 cidades atendidas por voos regulares – mais que o dobro de hoje.
Com o início da operação dos grandes aviões, que precisam de menos paradas para abastecer, o número de aeroportos atendidos foi caindo. Além disso, era preciso mais estrutura para receber os aviões grandes.
“Na década de 1970, havia um plano de incentivo regional. Nos anos 1990, com o setor menos regulado, perdemos muitas companhias aéreas pequenas e muitos aeroportos regionais deixaram de funcionar”, diz o engenheiro. O governo federal promete um plano de R$ 7,3 bilhões em investimentos na aviação regional – a ideia é que as pessoas morem a até 100 km do local de embarque.
Carga. A principal ligação aérea de transporte de carga do País é entre São Paulo e Manaus, responsável pelo transporte de 99,3 mil toneladas em 2010, ou 22,8% dos 434 mil toneladas transportadas no País. A alta concentração no trecho entre as capitais de São Paulo e do Amazonas se justifica pela Zona Franca de Manaus.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Adicionar Comentários